Carlos Stávale

 

Filho dos imigrantes Pasquale Stávale e Júlia Ravagni, o dramaturgo, escritor e farmacêutico Carlos Stávale nasceu no Rio de Janeiro em 10 de setembro de 1889 e faleceu em São Paulo em 13 de março de 1917.

Ainda criança, a família de Carlos transferiu-se para São Paulo onde pouco tempo depois despertou-lhe a arte de escrever, assim como a de preparar fórmulas farmacêuticas, que foi sua profissão.

Como escritor, Carlos compôs vários poemas, contos e uma conferência sobre Arthur de Azevedo, de quem era admirador.

Como dramaturgo, Carlos foi o autor de “Padre Valverde”, “Redenção” (escrita em 1915), “A Semente”, “O Culpado”, A Odisséia De Uma Mulher” e “Ao Acaso”. Suas peças foram representadas intensamente nos anos de 1916 a 1917 nos teatros Espéria e Grêmio Júlio Dantas. A peça Redenção foi representada pela primeira vez em 1916 e sua renda foi destinada às vítimas da seca do nordeste brasileiro.

Em 30 de março de 1943, no Teatro da União Recreativa Melhoramentos, a peça Redenção foi representada e seu autor homenageado. Na ocasião, o Diretor Artístico Nelson Luiz Turini prestou uma homenagem emocionada a Carlos, recordando a época em que ambos militavam na Sociedade de Letras Álvares de Azevedo e salientando que, apesar de Carlos ter tido uma vida muito curta, deixou várias obras lindas que o imortalizaram.

 

TEXTO APÓCRIFO SOBRE CARLOS STÁVALE

 

 

Carlos Stávale nasceu no Rio de Janeiro no dia 10 de setembro de 1889 e faleceu no dia 13 de março de 1917, com apenas 28 anos de idade.

Para dar uma idéia do que ele foi na vida basta citar alguns trechos de um discurso que escreveu por ocasião do aniversário de uma pessoa da sua família, em que ele homenageia o seu tio por ser na ocasião a pessoa mais velha ali presente.

Diz ele:

 

Senhores! Venho de uma caminhada que durou vinte e oito anos... Quando era pequeno, atravessando a infância, contaram-me que andei às tontas e que vi o “arco da velha” para escapar das muitas das muitas peripécias da vida. Não posso afirmar, porque naquela época memória me faltava para reter indelével, na imaginação, tudo o quanto se passou comigo. Cresci. Crescendo cheguei ao período juvenil. Fui um “traquinas”, um peralta caminhando pela estrada do vício, caminhando pela estrada da salvação, porque eu me recordo bem que me levaram à igreja, fazendo-me receber a primeira comunhão e, conseqüentemente, ensinando-me a respeitar uma religião que, apesar de uma guerra estúpida e sem freio, vem há dois mil anos abatendo os perversos inimigos com a luz poderosa de uma verdade que, sorrindo, aponta: “Ecce Homo!”

Entrei depois na mocidade... Quis o destino que eu fosse para o interior... Valha a verdade, o passo não foi dos piores porque adquiri uma profissão, que foi a de farmacêutico, aprendi a ser dramaturgo e cheguei, com licença da palavra, a ser alguma coisa... Enfim, foi em pleno desdobrar dos dias mais esperançosos da minha vida que a fatalidade bateu à porta de casa... Minha chorada mãe adoeceu... ficou gravemente enferma e, mau grado a nossa ânsia, morreu... E nesta hora, que dela me lembro, peço a ela que, no céu onde está, ao lado da Virgem que ela tanto amou, reze por nós todos, pobres mortais entregues aos vai vens da sorte! Ora, acontecendo isto, regenerei-me, fiquei velho, encarando a vida como se me pesasse às costas a idade do meu querido pai aqui presente!

 

E ainda, em outro trecho do discurso:

 

Ora, é claríssimo que um discurso feito assim com muitos intervalos, intervalos que foram ocupados com a preparação de um xarope, ou de uma fórmula de pílulas, devia dar uma espécie de pomada e afinal, o meu discurso é, sem constrangimento o digo, uma pomada feita com os ingredientes péssimos do meu preparo intelectual.

Porém, convencido como estou, que entre os presentes não está a senhora “Dona Crítica”, com todas as exigências do seu gosto de respeitável matrona, encomendo-me ao espírito do saber e vou entrar na “lengalenga” do motivo que me arvorou orador em concorrência ao sábio e barulhento Irineu Machado!

 

Escrevia muito sempre que tinha uma folga, além de diversas “fantasias” ou “composições” como ele chamava, escreveu vários dramas, alguns dos quais representados entre os anos de 1916 e 1917 por um grupo de amadores no Teatro Esperia e no Grêmio Julio Dantas. Escreveu “Padre Valverde”, “Redenção”, “A Semente”, “O Culpado”, “A Odisséia De Uma Mulher” e “Ao Acaso”.

Com grande êxito fez representar (parece-me que foi em 1916) a peça Redenção, cuja renda reverteu em benefício das vítimas da seca do nordeste, que naquela época foi tremenda.

Escreveu uma conferência sobre Arthur de Azevedo, de quem era grande admirador e o qual escolheu para seu patrono, pela sua modéstia e pelo valor do seu cintilante talento. Nela ressalta as inúmeras qualidades do grande morto como jornalista, poeta, comediante, citando trechos de sua vida e poesias de sua lavra, entre elas a célebre “Cantilena”, oferecida a Olavo Bilac.

Carlos Stávale também foi modesto e humilde até o dia em que entregou sua alma ao “Criador”.

 

 

 

O texto original encontra-se no Acervo Stávale e foi doado por Alexandra, neta de Maria Stávale que era irmã de Carlos.