Aurea Maria Stávale

Filha de Alfredo Stávale e Alda Fernandes de Araújo. Casada com Sergio de Castro Gonçalves, tem dois filhos: Isabela Stávale de Castro Gonçalves e Leonardo Stávale de Castro Gonçalves.

Neuropsicóloga na Associação Brasileira de Dislexia.
Gestão educacional, Neuropsicologia, Psicopedagogia.

 

Histórico Profissional:

Neuropsicóloga
Associação Brasileira de Dislexia

Psicopedagoga
Psicopedagoga clínica
1990 – março de 2012 (22 anos). São Paulo.
Atendimento a pessoas com dificuldades de aprendizagem, principalmente dislexia, discalculia e transtorno do déficit de atenção.
Orientação aos pais.
Orientação e palestras em escolas.

 

Competências:

  • Psicopedagogia clínica.

 

Dislexia: Diálogo entre diagnóstico e acompanhamento psicopedagógico


 Áurea Maria Stavale Gonçalves*

Publicado na mídia Envolverde**

É muito frequente ouvirmos de pais, ou até mesmo de profissionais, comentários de que são contra diagnóstico, avaliação ou mesmo testes, pois tudo isso só serve para rotular seus filhos, pacientes ou alunos.
Lançar outro olhar sobre a questão é necessário, porque sabemos que rotulados eles já estão. Se não soubermos o que ocorre com a criança (ou jovem), como poderemos ajudá-la a aprender da melhor forma? Ou – o que é ainda mais importante – ajudá-la a aprender da forma que lhe é possível? Com tantos avanços das neurociências, não é mais época de ficarmos tentando acertar por ensaio e erro.
É nesse sentido que a avaliação neuropsicológica e a avaliação multidisciplinar (neuropsicológica, psicopedagógica e fonoaudiológica) realizadas pela ABD – para o diagnóstico da dislexia – são essenciais e fazem a diferença para a aprendizagem e desenvolvimento dessa criança.
Considerarei aqui o papel do diagnóstico do disléxico, principalmente em relação a ele mesmo. Na realidade, sabemos que há muitas implicações para a escola, meio social, enfim para a vida (fica para uma próxima reflexão).
A nossa experiência nos permite afirmar que, após a criança receber a informação de que é disléxica e entender o real significado disso, sente um grande alívio. Afinal, ela compreende que não é “culpada” dessa dificuldade, nem é burra ou outra hipótese terrível fantasiada por ela. Começa, assim, a tirar o peso que esmagava sua autoestima. Recordo-me inclusive de uma frase de uma criança de nove anos: “Tia, você tirou o mundo das minhas costas”.
O próximo passo será o acompanhamento. No caso do atendimento psicopedagógico, surgem dúvidas: será que isso adianta mesmo? Alguns pais se reconhecem na dificuldade dos filhos e argumentam que “se viraram” sozinhos. Vale perguntar: a que custo emocional?
E quais são os objetivos do atendimento? Em linhas gerais o portador de dislexia aprenderá a organizar-se em relação às atividades escolares, perceber-se como agente de seu processo de aprendizagem; aprender o como fazer, como estudar, resumir, resolução de problemas e estratégias de estudo. A estruturação do trabalho baseia-se naquilo que foi apontado na avaliação, habilidades e dificuldades. Essas serão abordadas de forma sistemática e contínua com o uso dos mais diferentes recursos. As funções cognitivas de atenção e memória também devem ser enfatizadas. Além disso, é feito um trabalho para percepção de competências visando a melhorar a autoestima e segurança em relação às atividades escolares, propiciando, assim, melhor vínculo com a escola e o aprender.
Usarei para explicar o significado do atendimento psicopedagógico ao disléxico uma paráfrase da simbologia do milho da pipoca, citada por Rubem Alves em seu livro O amor que acende a lua: “A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido que, para alguém que não conheça, parecerá que não pode competir com os grãos normais, graúdos. No entanto, aqueles grãos duros, quebra-dentes, após passarem pelo poder do fogo, transformam-se em pipoca macia”.
O milho da pipoca não é o que deve ser: apenas aquele grão fechado em sua casca dura. Na verdade, ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro, de uma beleza de flor, estourando alegria e pipocando para a vida.
Vamos, pois, eliminar o rótulo de preguiçoso, burro e vagabundo de nossas crianças e favorecer, no calor do atendimento psicopedagógico, a transformação daquele milho duro e feio, na pipoca macia, em flor.

* Áurea Maria Stavale Gonçalves é neuropsicóloga, psicopedagoga e membro do Centro e Avaliação e Encaminhamento da Associação Brasileira de Dislexia.
** Publicado originalmente no site Saúde em Pauta.