Aurea Maria StávaleFilha de Alfredo Stávale e Alda Fernandes de Araújo. Casada com Sergio de Castro Gonçalves, tem dois filhos: Isabela Stávale de Castro Gonçalves e Leonardo Stávale de Castro Gonçalves. Neuropsicóloga na Associação Brasileira de Dislexia.
Histórico Profissional:Neuropsicóloga Psicopedagoga
Competências:
Dislexia: Diálogo entre diagnóstico e acompanhamento psicopedagógico
Publicado na mídia Envolverde**
Lançar outro olhar sobre a questão é necessário, porque sabemos que rotulados eles já estão. Se não soubermos o que ocorre com a criança (ou jovem), como poderemos ajudá-la a aprender da melhor forma? Ou – o que é ainda mais importante – ajudá-la a aprender da forma que lhe é possível? Com tantos avanços das neurociências, não é mais época de ficarmos tentando acertar por ensaio e erro. É nesse sentido que a avaliação neuropsicológica e a avaliação multidisciplinar (neuropsicológica, psicopedagógica e fonoaudiológica) realizadas pela ABD – para o diagnóstico da dislexia – são essenciais e fazem a diferença para a aprendizagem e desenvolvimento dessa criança. Considerarei aqui o papel do diagnóstico do disléxico, principalmente em relação a ele mesmo. Na realidade, sabemos que há muitas implicações para a escola, meio social, enfim para a vida (fica para uma próxima reflexão). A nossa experiência nos permite afirmar que, após a criança receber a informação de que é disléxica e entender o real significado disso, sente um grande alívio. Afinal, ela compreende que não é “culpada” dessa dificuldade, nem é burra ou outra hipótese terrível fantasiada por ela. Começa, assim, a tirar o peso que esmagava sua autoestima. Recordo-me inclusive de uma frase de uma criança de nove anos: “Tia, você tirou o mundo das minhas costas”. O próximo passo será o acompanhamento. No caso do atendimento psicopedagógico, surgem dúvidas: será que isso adianta mesmo? Alguns pais se reconhecem na dificuldade dos filhos e argumentam que “se viraram” sozinhos. Vale perguntar: a que custo emocional? E quais são os objetivos do atendimento? Em linhas gerais o portador de dislexia aprenderá a organizar-se em relação às atividades escolares, perceber-se como agente de seu processo de aprendizagem; aprender o como fazer, como estudar, resumir, resolução de problemas e estratégias de estudo. A estruturação do trabalho baseia-se naquilo que foi apontado na avaliação, habilidades e dificuldades. Essas serão abordadas de forma sistemática e contínua com o uso dos mais diferentes recursos. As funções cognitivas de atenção e memória também devem ser enfatizadas. Além disso, é feito um trabalho para percepção de competências visando a melhorar a autoestima e segurança em relação às atividades escolares, propiciando, assim, melhor vínculo com a escola e o aprender. Usarei para explicar o significado do atendimento psicopedagógico ao disléxico uma paráfrase da simbologia do milho da pipoca, citada por Rubem Alves em seu livro O amor que acende a lua: “A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido que, para alguém que não conheça, parecerá que não pode competir com os grãos normais, graúdos. No entanto, aqueles grãos duros, quebra-dentes, após passarem pelo poder do fogo, transformam-se em pipoca macia”. O milho da pipoca não é o que deve ser: apenas aquele grão fechado em sua casca dura. Na verdade, ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro, de uma beleza de flor, estourando alegria e pipocando para a vida. Vamos, pois, eliminar o rótulo de preguiçoso, burro e vagabundo de nossas crianças e favorecer, no calor do atendimento psicopedagógico, a transformação daquele milho duro e feio, na pipoca macia, em flor. * Áurea Maria Stavale Gonçalves é neuropsicóloga, psicopedagoga e membro do Centro e Avaliação e Encaminhamento da Associação Brasileira de Dislexia. |