Marina Sandeville Stávale Joaquim

Filha de Marcos Augusto Stávale Joaquim e Maria Laura Sandeville.

 

Monitora de Psicobiologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

 

Resumo da experiência profissional:

- Monitora de Bases Fisiológicas do Comportamento
- Monitora de Psicobiologia


Cursos: 
- Neuroeconomia: o cérebro, as decisões econômicas e as decisões humanas
- Introdução à Neurociência e Neuropsicologia


Idiomas:
- Francês nível B2 (3 meses na França e Suíça)
- Inglês nível C1 (3 meses em Canadá e Reino Unido)

 

Histórico profissional:

Monitora de psicobiologia
PUC-SP | Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
setembro de 2013 – até o momento (1 ano 5 meses)

Monitora de bases fisiológicas do comportamento
PUC-SP | Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
fevereiro de 2013 – junho de 2013 (5 meses)

 

Competências:

  • Curso de Neuroeconomia
  • 8º Congresso Brasileiro de Psicobiologia
  • Francês nível B2
  • Inglês nível C1

 

Formação acadêmica:

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Psicologia
2012 – 2017 (previsão)
Atividades e grupos: três semestres consecutivos como monitora na área de biológicas.

Fundação Getúlio Vargas
Direito
2011 – 2011

 

A ‘Idade da Discrição’
Publicado na mídia Portal do Envelhecimento

Marina Sandeville Stávale Joaquim

Analisaremos neste texto a questão de gênero no conto “A Idade da Discrição” da escritora, filósofa existencialista e feminista francesa Simone de Beauvoir (1908 – 1986). A autora considerava-se mais uma romancista do que uma filósofa.
No entanto, sua obra filosófica foi a primeira a analisar a questão de gênero (ou, como ela dizia, sexo) de maneira mais profunda e desvinculada da ideologia capitalista liberal. 
Para ela, a condição material das mulheres derivava de sua condição biológica, ao mesmo tempo em que a sublimação dessas condições seria possível. 
Em “O Segundo Sexo”, Beauvoir argumenta que a mulher só pode ser plenamente livre quando livra-se do fardo da possibilidade de engravidar – ou seja, após a menopausa gozaria de maior liberdade. 
A gravidez é, para ela, o motivo pelo qual foi a mulher, e não o homem, o “segundo sexo”, ou mais especificamente o único sexo, já que tudo o que se refere ao homem é tido como universal e inerente ao “humano”, e a mulher é o específico. 
E teria sido a partir dessa questão material que todas as características femininas teriam sido inventadas, de modo a se fazer acreditar delicada, dependente, submissa e, assim, abrir mão da sua liberdade. E é disso que Beauvoir fala quando coloca sua famosa frase: “não se nasce mulher; torna-se”. 
De certa forma, ela previu o futuro: o advento da pílula trouxe a possibilidade do planejamento familiar, e com isso a mulher pode ser mais valorizada no mercado de trabalho, além de gozar de certa liberdade sexual. No entanto, tudo é complexo. 
O conto aqui analisado mostra, no entanto, a complexidade com a qual o sujeito apreende a realidade social que lhe é passada. Retratando uma mulher que tinha produção acadêmica, mostra uma pessoa do sexo feminino que em algum nível pode transcender. Para além de teorias existencialistas, que foram muito bem articuladas com o materialismo histórico pela autora, há a percepção subjetiva do mundo. Inserida em uma sociedade onde sua mente é construída para a subserviência ao homem, a mulher sente os acontecimentos orientada por isso. Ao mesmo tempo, mostra características de submissão à instituição da família e das normas sociais, com toda a dificuldade que é, para a mulher, transcender em nossa sociedade, mesmo que obtenha, como a protagonista do conto, um sucesso parcial. 
Beauvoir destrincha minuciosamente todos os fenômenos de educação e socialização que levam a mulher, desde a infância, a ser tida como o segundo sexo. E livrar-se disso não é algo fácil. A própria Beauvoir não se livrou totalmente da questão patriarcal que lhe foi introjetada – e quem pode culpá-la? 
Vivendo nos anos 50, ainda está à frente em termos de autonomia de muitas mulheres em 2014. E isso fica evidente no conto, que claramente tem um respaldo autobiográfico, dado que são dois acadêmicos no final da vida, envolvidos com a temática sexual, e a história acaba girando em torno da questão romântica e familiar. 
Também é possível analisar a relação da mãe com seus filhos e nora por meio da obra de Beauvoir: ela analisa a relação de mãe e filhos, e o que socialmente atribuiu-se à maternidade (compulsória) e como a mulher, esvaziada de autonomia, volta-se a seus filhos como reflexos do mundo e de si ao mesmo tempo. Por mais que tenha vindo a menopausa, a liberdade de não se reproduzir constitui apenas uma possibilidade de realização existencial da mulher. 
Enquanto estiver presa a casa, às tarefas domésticas e sua feminilidade, a mulher se vê destituída de futuro. Diz Beauvoir que, enquanto na modernidade a liberdade é tida como a projeção para o futuro, o papel da mulher é tido como a manutenção de um passado na luta contra o tempo. 
Em suas tarefas de dona de casa, o que visa é deixar a casa limpa: não há uma construção, apenas uma luta constante contra a deterioração. Se, na época do capitalismo latifundiário, a manutenção do patrimônio tinha, para as mulheres de classe alta, algum valor social, no capitalismo industrial isso se perde completamente. A mulher fica fadada à imanência enquanto o homem pode transcender. 
É também por isso que Beauvoir considera que o sexo feminino é o específico, é o único sexo. O homem, ao falar de si, refere-se à humanidade: ele não é aprisionado a sua imanência de gênero, pois o homem não tem de fato gênero. A mulher que se encerra no núcleo familiar tem sua possibilidade de expressão para o mundo mediada pelo marido. E é nessa prisão que começa sua luta contra o futuro: o futuro em que a casa se sujará novamente, e novamente, o futuro onde o marido se ausentará, o futuro onde os filhos crescerão e deixarão a casa. São essas as pressões sociais que constituem o caráter ambíguo da personagem.    
O conto pode ser comparado à autobiografia que Beauvoir escreve no final da vida, que muito em parte se dedica ao seu companheiro, Jean Paul Sartre. Ela conta que Sartre perdeu o interesse sexual por ela, mas que isso não lhe fez muita diferença.   
Saindo um pouco da restrição da análise do conto enquanto algo obviamente inserido na obra da autora, podemos fazer uma análise contemporânea sobre a questão do amor, por meio de autoras como Bell Hooks. Esta última escreve: 
Socializadas sob o falso pressuposto de que encontraremos amor em um locus onde a feminilidade é tida como desmerecedora e consistentemente desprezada, aprendemos cedo que o amor importa mais do que tudo, quando, na verdade sabemos, desde o começo do movimento feminista, que o que importa é a aprovação patriarcal”. (Hooks, 2001). Tradução livre. 
Uma questão interessante é que o conto parece descrever uma relação monogâmica, embora não o explicite. Beauvoir é uma das primeiras mulheres a questionar a monogamia como sendo estritamente uma forma de controle das mulheres, como essencialmente algo para o controle de seus corpos e subjetividade - muito embora Marx já esboce tal teoria de que a monogamia serve para o controle das mulheres devido à questão da herança: “A mulher e o filho são escravos do homem. A escravidão na família é a primeira propriedade” (Marx & Engels, 2010). 
Tal teoria é corroborada por Ana Bock em seu livro “Psicologias – Uma introdução ao estudo de psicologia”, Capítulo 15: “Psicologia institucional e processo grupal”. 
Em suma, a velhice feminina é atravessada por sua condição de mulher, e o conto de uma autora é essencialmente ligado ao todo de sua obra. 
A busca de Simone de Beauvoir pela emancipação das mulheres, por meio de uma metodologia materialista, influenciou grandes pensadoras inclusive do feminismo radical, e não há crítica de gênero que não cite essa grande feminista, mesmo quando a perspectiva é completamente distinta, como a “Teoria Queer”*, de Judith Butler. 
*A teoria queer, oficialmente queer theory (em inglês), é uma teoria sobre o género que afirma que a orientação sexual e a identidade sexual ou de género dos indivíduos são o resultado de um constructo social e que, portanto, não existem papéis sexuais essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_queer. 

Referências
Beauvoir, S.(1949). O Segundo Sexo: Livro II, cap. 1 e 2. Ed. Digital
Beauvoir, S. (1949). O Segundo Sexo: Livro I, cap. 3. Ed. Digital
Bock, A. (2001). Psicologias – uma introdução ao estudo de psicologia, cap, 15. Ed. Saraiva.
Butler, J. (2006). Gender Trouble, cap. 1. E-book.
Hooks, B. (2001). Communion: The Female Search for Love. E-book.
Marx, K. & Engels, F. (2010). A Ideologia Alemã. E-book. 

(*)Marina Sandeville Stávale Joaquim é aluna da eletiva “Envelhecimento na Literatura: revelações”, do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, 5º semestre, ministrado pela profa. Dra. Ruth Gelehrter da Costa Lopes.